A Medicina Desportiva deu os primeiros passos em Portugal quando, em 1939, se inaugurou o Centro de Medicina Desportiva da Mocidade Portuguesa.
Perdoem-me a contextualização mas a especialidade a que me dedico mantém-se na penumbra sem que, comummente, se saiba definir o que faço e o seu propósito. Sou defensor acérrimo de que informação é poder e não posso deixar de partilhar convosco, desportistas, o sentido da Medicina Desportiva na segurança da prática de desporto e exercício físico.
A importância de saber quando, e em que circunstâncias, deve procurar um médico da especialidade, é justamente garantir a segurança e defender a saúde do praticante de qualquer modalidade. Como? Passo a explicar.
Aos meus olhos, em medicina, é na prevenção que está o ganho, e como tal, o exame médico-desportivo (EMD) resume-se a um acompanhamento e avaliação especializada a todo o indivíduo que pretenda dar início, ou continuidade, a uma qualquer prática desportiva, independentemente deste ser federado ou amador.
A prática desportiva só poderá ser sinónimo de saúde se, efetivamente, a promover e não se a comprometer. É certo e sabido que os desportistas federados sofrem um desgaste físico e psicológico bastante considerável. Por esse motivo é crucial que usufruam de uma equipa multidisciplicar especializada e na qual conste um médico de medicina desportiva, o responsável por garantir que a prática desportiva é segura para o atleta. De que forma? Através do EMD onde são levantados e considerados vários fatores preditivos para atestar o atleta, nomeadamente antecedentes clínicos, fatores hereditários, hábitos sociais e exames complementares como é o caso do eletrocardiograma. Dando-se o caso de haver necessidade de despistar, ou vigiar, alguma suspeita merecedora de atenção, outros exames serão prescritos e considerados.
O cruzamento de toda a informação recolhida e avaliada vai culminar na aptidão, ou não, do atleta à prática desportiva da sua modalidade. Poderá também haver um meio-termo, em que o exercício desportivo seja condicionado, sendo necessário estabelecer reajustes para garantir a segurança do atleta, dependendo do diagnóstico e severidade do mesmo. Nesses casos é crucial efetuar um acompanhamento mais regular, para vigilância.
O exercício físico está cada vez mais em voga e o crescendo de praticantes é transversal a todas as idades. É importante alertar o senso comum para os riscos associados a uma prática desportiva sem acompanhamento especializado. Não recorrem ao dermatologista anualmente para um check up dos lentigos solares? Ou ao oftalmologista? Ou, no caso das senhoras, ao ginecologista? Pois bem, seguindo a mesmíssima linha de raciocínio, o acompanhamento mínimo de qualquer atleta deveria ser, pelo menos, anual. De preferência, mas não impreterível, no mês do seu aniversário, onde se assinala o seu envelhecimento biológico.
É, felizmente, cada vez mais comum a consciencialização da importância de cuidar do corpo e prevenir. Porém, considero que ainda de uma forma cega. A prevenção é ainda um conceito a cimentar e nesse aspeto suspeito que haja um longo caminho para palmilhar.
Em consulta de contexto EMD tenho-me apercebido do quão falta faz esclarecer a população, nomeadamente pais de atletas, do motivo pelo qual ali estão. O não acesso à elucidação adequada reflete-se em escolhas menos acertadas e que podem resultar em episódios que coloquem em risco a vida do atleta em questão.
Vamos imaginar que temos uma lista abrangente de desportos à frente de alguém não-desportista a quem pedíamos para selecionar os desportos menos desgastantes e em que, aos olhos mais vulgares, seria dispensável o atleta sujeitar-se a uma consulta anual de rastreio e monitorização da sua aptidão à prática desportiva. Assim sem grande esforço premedito que iria constar, fruto de julgamento erróneo, pelo menos golfe (batem umas bolas e caminham…) e equitação (o cavalo é que corre…). Os cavaleiros, não tendo a mesma perspetiva do senso comum, poderão dizer o quão exigente é a sua prática desportiva. São atletas cuja exigência física poderá ser erradamente menosprezada. Será comum julgar que toda esta panóplia de avaliações e prevenção deveria ser direcionada somente aos cavalos, afinal de contas são eles que correm e concretizam os saltos. Direi que também, mas não só.
O cavaleiro é um atleta altamente sujeito a posturas mantidas por longos períodos de tempo e pouco indicadas para a boa saúde das estruturas lombo-pélvicas, por exemplo. Não menos importante será referir os fortes impactos sofridos, o que poderá resultar em lesões do foro músculo-esquelético ao nível de joelho, anca e lombar. Não esquecendo os sérios riscos associados às quedas, é também importante ressalvar a tremenda exigência cardiorrespiratória desta prática desportiva.
Há lesões identificadas como tipicamente associadas à equitação. Para conquistar a máxima performance, o atleta deve minimizar a probabilidade de lesão apostando na prevenção. Por definição, prevenção é adotar medidas ou estratégias que nos permitam evitar ou minorar o impacto de um acontecimento nefasto ou nocivo, é evitar o dano.
O acompanhamento por profissionais de saúde especializados em desporto garante a exploração das skills desportivas de forma maximizada, segura e bem-sucedida. Não descure da prevenção junto do seu médico de medicina desportiva.
Dê lugar ao poder da informação e partilhe este seu novo conhecimento para que se cumpra o propósito da Medicina Desportiva: garantir a saúde de todos os atletas.