O hipismo é uma modalidade desportiva que, do ponto de vista médico, é de uma exigência tremenda tanto a nível físico como psicológico.
Trata-se de um desporto em que os cavaleiros têm um parceiro de equipa menos previsível e com vontade própria, o que acresce dificuldade, aumenta o risco e claro, a emoção, à modalidade.
As lesões no hipismo vão muito mais além das lesões provocadas por quedas, apesar destas serem as mais óbvias e destacadas. Lá chegaremos!
Considero primordial alertar para as lesões por sobreuso. Entenda-se, por sobreuso, o recurso constante, a grande frequência, a sobrecarga. Isto porque são as lesões em que conseguimos ter uma maior influência no que diz respeito à prevenção. São aquelas em que conseguimos diminuir as hipóteses de desenvolver se estivermos sensibilizados para a elevada possibilidade de se manifestarem, as mais evitáveis, digo eu.
Falo em elevada possibilidade porque, tal como qualquer outra prática desportiva, esta tem um perfil, um padrão reconhecido: o alinhamento das estruturas, o posicionamento típico do atleta, os grupos musculares mais recrutados e o impacto a que os cavaleiros são sujeitos, pelo que existem lesões bastante previsíveis de desenvolver.
O posicionamento típico do cavaleiro favorece determinadas alterações posturais, fruto de desequilíbrios musculares característicos e consequente mau posicionamento das estruturas articulares de forma prolongada. Estes fatores encadeados, inevitavelmente, interferem com a performance do atleta.
As prováveis lesões por sobreuso podem começar a ser reconhecidas pelo cavaleiro através de desconforto e dor. As regiões anatómicas mais propícias a este tipo de lesão são os ombros, a coluna lombar e os membros inferiores, uma vez que são alvos mais vulneráveis a microtraumas de repetição que podem acabar por desencadear processos inflamatórios.
As tendinites não são mais nem menos do que processos inflamatórios instalados, por repetição, e são lesões muito frequentes no que diz respeito aos ombros, pelo posicionamento e movimentos consecutivos em tensão.
A patologia da coluna vertebral também é uma realidade, sendo que na região lombar é mais prevalente. É bastante comum o diagnóstico de lombalgia no atleta cavaleiro e muito fácil compreender o porquê; o diagnóstico espondilolistese (quando se dá um deslizamento de uma das vértebras, face a outra, relativamente à sua posição normal) também está associado embora com aparente ligeira menor frequência. Uma coluna lombar lesionada, pode ser tratada? Sim, pode. A lesão pode ser prevenida? Deve! Mais vale prevenir do que… exato, remediar!
Reforço a minha perspetiva de que é na prevenção que está o ganho! Ora, a prevenção não significa que não possamos sofrer determinada lesão, mas significa que estamos a diminuir a possibilidade de a desenvolvermos. Estar lesionado é sinónimo de interferência direta com a prestação desportiva e desgaste emocional durante o período de recuperação e inevitável condicionamento.
Apostar num reforço muscular do core de forma focada, regular e funcional, aliado a treino de mobilidade, é essencial para prevenir lesões da coluna lombar.
Os membros inferiores são bastante recrutados na prática de hipismo, sendo que os músculos adutores têm um papel preponderante na estabilidade do atleta. Isto significa que, se queremos respeitar a harmonia e o equilíbrio muscular, temos de estimular os músculos antagonistas, refiro-me aos músculos abdutores e glúteos. Os glúteos são músculos, a meu ver, muito menosprezados… erroneamente, pois são responsáveis, também, pela estabilização da coluna lombar e ancas. Não menos importante é mencionar a relevância de um ritual de alongamentos das cadeias musculares mais solicitadas na prática desportiva.
Devido ao posicionamento do cavaleiro, podem ser desenvolvidos, nos joelhos, processos inflamatórios nomeadamente ao nível tendinoso, ou da plica sinovial. Por curiosidade, passo a esclarecer; a plica sinovial nada mais é do que uma membrana residual do período gestacional e que não é comum a todos nós. A solicitação frequente da mesma pode resultar num processo inflamatório intra-articular e consequente incapacidade funcional do atleta.
Ainda no que diz respeito às lesões de sobreuso mais comuns dos membros inferiores, não é menos importante referir a tendinopatia do tendão de Aquiles, que se revela bastante frequente.
O posicionamento do pé em permanente flexão dorsal leva a uma contração excêntrica constante por parte dos gastrocnémios e constante estiramento do tendão de Aquiles. Este conflito de forma prolongada, pela exigência que a posição requer, favorece mais uma vez o desenvolvimento de um processo inflamatório que a dada altura se começa a instalar.
Os processos inflamatórios não são a lesão, mas sim o sinal de que esta decorreu nalguma estrutura. Porque o saber não ocupa lugar, passo a explicar; um processo inflamatório surge quando ocorre uma lesão num determinado tecido como resposta por parte do sistema imunológico com o propósito de limpeza e reparação, digamos assim. Dependendo da intensidade dos sintomas e tempo que demoram a surgir bem como o período que a inflamação leva até se extinguir, esta pode ser considerada aguda ou crónica.
Na decorrência de qualquer lesão, é importante avaliar em consulta para diagnosticar, determinar o grau de severidade da lesão e definir qual a melhor terapêutica a adotar seja ela farmacológica, medicamentosa injetável, cirúrgica ou recorrendo a tratamentos de fisioterapia.
Tal como prometido uns parágrafos atrás, não podia deixar de mencionar as lesões de foro traumatológico usualmente originadas por episódios de queda, sendo que as mais comuns são a fratura de clavícula, luxação acrómio-clavicular, fraturas vertebrais, podendo estas apresentar comprometimento neurológico ou não, ou fratura na região da bacia, sendo esta menos frequente que as anteriores. Porém, uma queda pode resultar em qualquer tipo de lesão, ou várias lesões, e é importante adotar todas as medidas de segurança possíveis e previstas pelas regras pré-estabelecidas pela modalidade.
Segundo um estudo, que tive oportunidade de consultar, publicado pela British Medical Journal, pude constatar que das lesões traumatológicas que, ao longo de 5 anos, levaram praticantes de hipismo a procurar cuidados hospitalares, a maioria manifestou lesões ao nível da cabeça, seguido de lesões de membros superiores e membros inferiores quase com a mesma incidência percentual, seguido de lesões da coluna vertebral. As fraturas foram as lesões mais comuns. Este estudo foi desenvolvido no Canadá.
Verificou-se ainda que cerca de 62% das admissões foram mulheres mas não foi identificada uma possível causa, pelo que pessoalmente assumo que se deva ao aumento considerável da afluência de mulheres a uma modalidade desportiva que em tempos que já lá vão, foi associada maioritariamente aos homens. Havendo mais mulheres praticantes, as probabilidades alteram-se e equilibram-se.
Não posso deixar de salientar que as quedas podem resultar em lesões graves na cabeça, nomeadamente concussões. Este tipo de lesão só pode ser, de alguma forma, prevenida através do cumprimento escrupuloso das regras de segurança estabelecidas e do bom senso. O uso permanente de capacete adequado, isto é, com a medida exata, com a colocação correta e substituído sempre que este sofre um impacto considerável, é determinante para diminuir as possibilidades de lesão crânio-encefálica.
Desta forma, alerto para a importância da prevenção devido à especificidade da modalidade e da extrema exigência física que requer o hipismo.
O posicionamento típico, a repetição de movimentos e o impacto constante não são aliados à maximização da sua performance se não complementar a sua prática com preparação física específica focada no equilíbrio e funcionalidade, justamente para prevenir lesões de sobrecarga.
Já o outro dizia, e bem, não adianta chorar sobre leite derramado. E como tal, defendo que é imprescindível apostar na evolução desportiva de forma consciente e holística, o que significa antecipar eventuais lesões associadas à prática de hipismo e desenvolver um plano de preparação física personalizado ao atleta de acordo com as suas características morfológicas e desportivas.
E como o seguro morreu de velho, aposte na prevenção.
O hipismo é uma modalidade desportiva que, do ponto de vista médico, é de uma exigência tremenda tanto a nível físico como psicológico.
Trata-se de um desporto em que os cavaleiros têm um parceiro de equipa menos previsível e com vontade própria, o que acresce dificuldade, aumenta o risco e claro, a emoção, à modalidade.
As lesões no hipismo vão muito mais além das lesões provocadas por quedas, apesar destas serem as mais óbvias e destacadas. Lá chegaremos!
Considero primordial alertar para as lesões por sobreuso. Entenda-se, por sobreuso, o recurso constante, a grande frequência, a sobrecarga. Isto porque são as lesões em que conseguimos ter uma maior influência no que diz respeito à prevenção. São aquelas em que conseguimos diminuir as hipóteses de desenvolver se estivermos sensibilizados para a elevada possibilidade de se manifestarem, as mais evitáveis, digo eu.
Falo em elevada possibilidade porque, tal como qualquer outra prática desportiva, esta tem um perfil, um padrão reconhecido: o alinhamento das estruturas, o posicionamento típico do atleta, os grupos musculares mais recrutados e o impacto a que os cavaleiros são sujeitos, pelo que existem lesões bastante previsíveis de desenvolver.
O posicionamento típico do cavaleiro favorece determinadas alterações posturais, fruto de desequilíbrios musculares característicos e consequente mau posicionamento das estruturas articulares de forma prolongada. Estes fatores encadeados, inevitavelmente, interferem com a performance do atleta.
As prováveis lesões por sobreuso podem começar a ser reconhecidas pelo cavaleiro através de desconforto e dor. As regiões anatómicas mais propícias a este tipo de lesão são os ombros, a coluna lombar e os membros inferiores, uma vez que são alvos mais vulneráveis a microtraumas de repetição que podem acabar por desencadear processos inflamatórios.
As tendinites não são mais nem menos do que processos inflamatórios instalados, por repetição, e são lesões muito frequentes no que diz respeito aos ombros, pelo posicionamento e movimentos consecutivos em tensão.
A patologia da coluna vertebral também é uma realidade, sendo que na região lombar é mais prevalente. É bastante comum o diagnóstico de lombalgia no atleta cavaleiro e muito fácil compreender o porquê; o diagnóstico espondilolistese (quando se dá um deslizamento de uma das vértebras, face a outra, relativamente à sua posição normal) também está associado embora com aparente ligeira menor frequência. Uma coluna lombar lesionada, pode ser tratada? Sim, pode. A lesão pode ser prevenida? Deve! Mais vale prevenir do que… exato, remediar!
Reforço a minha perspetiva de que é na prevenção que está o ganho! Ora, a prevenção não significa que não possamos sofrer determinada lesão, mas significa que estamos a diminuir a possibilidade de a desenvolvermos. Estar lesionado é sinónimo de interferência direta com a prestação desportiva e desgaste emocional durante o período de recuperação e inevitável condicionamento.
Apostar num reforço muscular do core de forma focada, regular e funcional, aliado a treino de mobilidade, é essencial para prevenir lesões da coluna lombar.
Os membros inferiores são bastante recrutados na prática de hipismo, sendo que os músculos adutores têm um papel preponderante na estabilidade do atleta. Isto significa que, se queremos respeitar a harmonia e o equilíbrio muscular, temos de estimular os músculos antagonistas, refiro-me aos músculos abdutores e glúteos. Os glúteos são músculos, a meu ver, muito menosprezados… erroneamente, pois são responsáveis, também, pela estabilização da coluna lombar e ancas. Não menos importante é mencionar a relevância de um ritual de alongamentos das cadeias musculares mais solicitadas na prática desportiva.
Devido ao posicionamento do cavaleiro, podem ser desenvolvidos, nos joelhos, processos inflamatórios nomeadamente ao nível tendinoso, ou da plica sinovial. Por curiosidade, passo a esclarecer; a plica sinovial nada mais é do que uma membrana residual do período gestacional e que não é comum a todos nós. A solicitação frequente da mesma pode resultar num processo inflamatório intra-articular e consequente incapacidade funcional do atleta.
Ainda no que diz respeito às lesões de sobreuso mais comuns dos membros inferiores, não é menos importante referir a tendinopatia do tendão de Aquiles, que se revela bastante frequente.
O posicionamento do pé em permanente flexão dorsal leva a uma contração excêntrica constante por parte dos gastrocnémios e constante estiramento do tendão de Aquiles. Este conflito de forma prolongada, pela exigência que a posição requer, favorece mais uma vez o desenvolvimento de um processo inflamatório que a dada altura se começa a instalar.
Os processos inflamatórios não são a lesão, mas sim o sinal de que esta decorreu nalguma estrutura. Porque o saber não ocupa lugar, passo a explicar; um processo inflamatório surge quando ocorre uma lesão num determinado tecido como resposta por parte do sistema imunológico com o propósito de limpeza e reparação, digamos assim. Dependendo da intensidade dos sintomas e tempo que demoram a surgir bem como o período que a inflamação leva até se extinguir, esta pode ser considerada aguda ou crónica.
Na decorrência de qualquer lesão, é importante avaliar em consulta para diagnosticar, determinar o grau de severidade da lesão e definir qual a melhor terapêutica a adotar seja ela farmacológica, medicamentosa injetável, cirúrgica ou recorrendo a tratamentos de fisioterapia.
Tal como prometido uns parágrafos atrás, não podia deixar de mencionar as lesões de foro traumatológico usualmente originadas por episódios de queda, sendo que as mais comuns são a fratura de clavícula, luxação acrómio-clavicular, fraturas vertebrais, podendo estas apresentar comprometimento neurológico ou não, ou fratura na região da bacia, sendo esta menos frequente que as anteriores. Porém, uma queda pode resultar em qualquer tipo de lesão, ou várias lesões, e é importante adotar todas as medidas de segurança possíveis e previstas pelas regras pré-estabelecidas pela modalidade.
Segundo um estudo, que tive oportunidade de consultar, publicado pela British Medical Journal, pude constatar que das lesões traumatológicas que, ao longo de 5 anos, levaram praticantes de hipismo a procurar cuidados hospitalares, a maioria manifestou lesões ao nível da cabeça, seguido de lesões de membros superiores e membros inferiores quase com a mesma incidência percentual, seguido de lesões da coluna vertebral. As fraturas foram as lesões mais comuns. Este estudo foi desenvolvido no Canadá.
Verificou-se ainda que cerca de 62% das admissões foram mulheres mas não foi identificada uma possível causa, pelo que pessoalmente assumo que se deva ao aumento considerável da afluência de mulheres a uma modalidade desportiva que em tempos que já lá vão, foi associada maioritariamente aos homens. Havendo mais mulheres praticantes, as probabilidades alteram-se e equilibram-se.
Não posso deixar de salientar que as quedas podem resultar em lesões graves na cabeça, nomeadamente concussões. Este tipo de lesão só pode ser, de alguma forma, prevenida através do cumprimento escrupuloso das regras de segurança estabelecidas e do bom senso. O uso permanente de capacete adequado, isto é, com a medida exata, com a colocação correta e substituído sempre que este sofre um impacto considerável, é determinante para diminuir as possibilidades de lesão crânio-encefálica.
Desta forma, alerto para a importância da prevenção devido à especificidade da modalidade e da extrema exigência física que requer o hipismo.
O posicionamento típico, a repetição de movimentos e o impacto constante não são aliados à maximização da sua performance se não complementar a sua prática com preparação física específica focada no equilíbrio e funcionalidade, justamente para prevenir lesões de sobrecarga.
Já o outro dizia, e bem, não adianta chorar sobre leite derramado. E como tal, defendo que é imprescindível apostar na evolução desportiva de forma consciente e holística, o que significa antecipar eventuais lesões associadas à prática de hipismo e desenvolver um plano de preparação física personalizado ao atleta de acordo com as suas características morfológicas e desportivas.
E como o seguro morreu de velho, aposte na prevenção.
O hipismo é uma modalidade desportiva que, do ponto de vista médico, é de uma exigência tremenda tanto a nível físico como psicológico.
Trata-se de um desporto em que os cavaleiros têm um parceiro de equipa menos previsível e com vontade própria, o que acresce dificuldade, aumenta o risco e claro, a emoção, à modalidade.
As lesões no hipismo vão muito mais além das lesões provocadas por quedas, apesar destas serem as mais óbvias e destacadas. Lá chegaremos!
Considero primordial alertar para as lesões por sobreuso. Entenda-se, por sobreuso, o recurso constante, a grande frequência, a sobrecarga. Isto porque são as lesões em que conseguimos ter uma maior influência no que diz respeito à prevenção. São aquelas em que conseguimos diminuir as hipóteses de desenvolver se estivermos sensibilizados para a elevada possibilidade de se manifestarem, as mais evitáveis, digo eu.
Falo em elevada possibilidade porque, tal como qualquer outra prática desportiva, esta tem um perfil, um padrão reconhecido: o alinhamento das estruturas, o posicionamento típico do atleta, os grupos musculares mais recrutados e o impacto a que os cavaleiros são sujeitos, pelo que existem lesões bastante previsíveis de desenvolver.
O posicionamento típico do cavaleiro favorece determinadas alterações posturais, fruto de desequilíbrios musculares característicos e consequente mau posicionamento das estruturas articulares de forma prolongada. Estes fatores encadeados, inevitavelmente, interferem com a performance do atleta.
As prováveis lesões por sobreuso podem começar a ser reconhecidas pelo cavaleiro através de desconforto e dor. As regiões anatómicas mais propícias a este tipo de lesão são os ombros, a coluna lombar e os membros inferiores, uma vez que são alvos mais vulneráveis a microtraumas de repetição que podem acabar por desencadear processos inflamatórios.
As tendinites não são mais nem menos do que processos inflamatórios instalados, por repetição, e são lesões muito frequentes no que diz respeito aos ombros, pelo posicionamento e movimentos consecutivos em tensão.
A patologia da coluna vertebral também é uma realidade, sendo que na região lombar é mais prevalente. É bastante comum o diagnóstico de lombalgia no atleta cavaleiro e muito fácil compreender o porquê; o diagnóstico espondilolistese (quando se dá um deslizamento de uma das vértebras, face a outra, relativamente à sua posição normal) também está associado embora com aparente ligeira menor frequência. Uma coluna lombar lesionada, pode ser tratada? Sim, pode. A lesão pode ser prevenida? Deve! Mais vale prevenir do que… exato, remediar!
Reforço a minha perspetiva de que é na prevenção que está o ganho! Ora, a prevenção não significa que não possamos sofrer determinada lesão, mas significa que estamos a diminuir a possibilidade de a desenvolvermos. Estar lesionado é sinónimo de interferência direta com a prestação desportiva e desgaste emocional durante o período de recuperação e inevitável condicionamento.
Apostar num reforço muscular do core de forma focada, regular e funcional, aliado a treino de mobilidade, é essencial para prevenir lesões da coluna lombar.
Os membros inferiores são bastante recrutados na prática de hipismo, sendo que os músculos adutores têm um papel preponderante na estabilidade do atleta. Isto significa que, se queremos respeitar a harmonia e o equilíbrio muscular, temos de estimular os músculos antagonistas, refiro-me aos músculos abdutores e glúteos. Os glúteos são músculos, a meu ver, muito menosprezados… erroneamente, pois são responsáveis, também, pela estabilização da coluna lombar e ancas. Não menos importante é mencionar a relevância de um ritual de alongamentos das cadeias musculares mais solicitadas na prática desportiva.
Devido ao posicionamento do cavaleiro, podem ser desenvolvidos, nos joelhos, processos inflamatórios nomeadamente ao nível tendinoso, ou da plica sinovial. Por curiosidade, passo a esclarecer; a plica sinovial nada mais é do que uma membrana residual do período gestacional e que não é comum a todos nós. A solicitação frequente da mesma pode resultar num processo inflamatório intra-articular e consequente incapacidade funcional do atleta.
Ainda no que diz respeito às lesões de sobreuso mais comuns dos membros inferiores, não é menos importante referir a tendinopatia do tendão de Aquiles, que se revela bastante frequente.
O posicionamento do pé em permanente flexão dorsal leva a uma contração excêntrica constante por parte dos gastrocnémios e constante estiramento do tendão de Aquiles. Este conflito de forma prolongada, pela exigência que a posição requer, favorece mais uma vez o desenvolvimento de um processo inflamatório que a dada altura se começa a instalar.
Os processos inflamatórios não são a lesão, mas sim o sinal de que esta decorreu nalguma estrutura. Porque o saber não ocupa lugar, passo a explicar; um processo inflamatório surge quando ocorre uma lesão num determinado tecido como resposta por parte do sistema imunológico com o propósito de limpeza e reparação, digamos assim. Dependendo da intensidade dos sintomas e tempo que demoram a surgir bem como o período que a inflamação leva até se extinguir, esta pode ser considerada aguda ou crónica.
Na decorrência de qualquer lesão, é importante avaliar em consulta para diagnosticar, determinar o grau de severidade da lesão e definir qual a melhor terapêutica a adotar seja ela farmacológica, medicamentosa injetável, cirúrgica ou recorrendo a tratamentos de fisioterapia.
Tal como prometido uns parágrafos atrás, não podia deixar de mencionar as lesões de foro traumatológico usualmente originadas por episódios de queda, sendo que as mais comuns são a fratura de clavícula, luxação acrómio-clavicular, fraturas vertebrais, podendo estas apresentar comprometimento neurológico ou não, ou fratura na região da bacia, sendo esta menos frequente que as anteriores. Porém, uma queda pode resultar em qualquer tipo de lesão, ou várias lesões, e é importante adotar todas as medidas de segurança possíveis e previstas pelas regras pré-estabelecidas pela modalidade.
Segundo um estudo, que tive oportunidade de consultar, publicado pela British Medical Journal, pude constatar que das lesões traumatológicas que, ao longo de 5 anos, levaram praticantes de hipismo a procurar cuidados hospitalares, a maioria manifestou lesões ao nível da cabeça, seguido de lesões de membros superiores e membros inferiores quase com a mesma incidência percentual, seguido de lesões da coluna vertebral. As fraturas foram as lesões mais comuns. Este estudo foi desenvolvido no Canadá.
Verificou-se ainda que cerca de 62% das admissões foram mulheres mas não foi identificada uma possível causa, pelo que pessoalmente assumo que se deva ao aumento considerável da afluência de mulheres a uma modalidade desportiva que em tempos que já lá vão, foi associada maioritariamente aos homens. Havendo mais mulheres praticantes, as probabilidades alteram-se e equilibram-se.
Não posso deixar de salientar que as quedas podem resultar em lesões graves na cabeça, nomeadamente concussões. Este tipo de lesão só pode ser, de alguma forma, prevenida através do cumprimento escrupuloso das regras de segurança estabelecidas e do bom senso. O uso permanente de capacete adequado, isto é, com a medida exata, com a colocação correta e substituído sempre que este sofre um impacto considerável, é determinante para diminuir as possibilidades de lesão crânio-encefálica.
Desta forma, alerto para a importância da prevenção devido à especificidade da modalidade e da extrema exigência física que requer o hipismo.
O posicionamento típico, a repetição de movimentos e o impacto constante não são aliados à maximização da sua performance se não complementar a sua prática com preparação física específica focada no equilíbrio e funcionalidade, justamente para prevenir lesões de sobrecarga.
Já o outro dizia, e bem, não adianta chorar sobre leite derramado. E como tal, defendo que é imprescindível apostar na evolução desportiva de forma consciente e holística, o que significa antecipar eventuais lesões associadas à prática de hipismo e desenvolver um plano de preparação física personalizado ao atleta de acordo com as suas características morfológicas e desportivas.
E como o seguro morreu de velho, aposte na prevenção.